Natasha Singer *
A tecnologia do reconhecimento facial é um elemento fundamental de filmes de suspense, como ‘Minority Report’. Mas, em cidades como Chicago, o SceneTap, novo aplicativo para smartphones, utiliza câmeras com software de detecção facial para bisbilhotar o interior de bares.
Sem identificar determinados clientes, ele envia informações como a idade média da clientela e a proporção de homens e mulheres, ajudando os frequentadores a decidir aonde ir. Mais de 50 bares de Chicago participam da experiência.
Como o SceneTap sugere, técnicas como a detecção facial, que percebe o rosto humano, mas não identifica determinadas pessoas, e o reconhecimento facial, que identifica os indivíduos, deverão tornar-se a próxima sensação do marketing personalizado e os smartphones.
Essa é uma grande novidade para empresas que querem adotar serviços personalizados, e não tão grande assim para pessoas ciosas da própria privacidade. A difusão dessa tecnologia — essencialmente, a democratização da vigilância — poderá assinalar o fim do anonimato.
A tecnologia está se difundindo. A Immersive Labs, uma empresa de Manhattan, desenvolveu software para cartazes digitais que usam câmeras para avaliar a faixa etária, o sexo e o nível de atenção de um transeunte.
Os cartazes inteligentes, que serão lançados este mês em Los Angeles, San Francisco e Nova York, mostram anúncios baseados nos dados demográficos dos consumidores. Em outras palavras, o sistema é inteligente a ponto de mostrar por exemplo um anúncio da Gillette a um transeunte de sexo masculino, e não um anúncio de Tampax.

A Immersive Labs desenvolveu um sistema de detecção fácil para ser usado em cartazes digitais de publicidade com câmeras (Foto: JEN MYRONUK VIA THE NEW YORK TIMES)
Redes sociais
Mas esses avanços são insignificantes perto da ferramenta que sugere dar nomes às pessoas das fotos, lançada pelo Facebook este ano. Quando uma pessoa faz o upload de fotos no seu site, o recurso “Tag Suggestions” (sugestões para pôr etiquetas com os nomes) usa o reconhecimento facial para identificar os amigos daquele usuário naquelas fotos e sugere automaticamente dar-lhes o nome.
É um pequeno truque que livra as pessoas da tarefa aborrecida de digitar repetidamente os nomes dos mesmos amigos em álbuns com as suas fotos. “Milhões de pessoas estão usando esse recurso para adicionar centenas de milhares de etiquetas”, diz Simon Axten, um porta-voz do Facebook.
Outros programas conhecidos, como o Picasa, serviço de fotos do Google, e aplicativos de terceiros como o Photo Tagger, produzido pela face.com, trabalham de maneira semelhante.
Mas o reconhecimento facial está se difundindo tão rapidamente que algumas autoridades reguladoras dos EUA e da Europa querem acompanhar o seu passo. Por um lado, afirmam, a tecnologia tem um grande potencial econômico. Por outro, como o reconhecimento facial funciona analisando e armazenando medidas faciais individuais, também acarreta graves riscos de invadir a privacidade das pessoas.
Usando software de reconhecimento facial, pesquisadores da Carnegie Mellon University conseguiram recentemente identificar cerca de um terço dos estudantes que se apresentaram como voluntários para ser fotografados para um estudo — apenas comparando as fotos desses estudantes anônimos a imagens disponíveis no Facebook.
Fim do anonimato
Usando outras informações públicas, os pesquisadores também identificaram os interesses e previram os números parciais da Seguridade Social de alguns deles.
“É um futuro em que as pessoas não poderão mais se considerar anônimas — mesmo quando se encontrarem num espaço público cercadas por estranhos”, diz Alessandro Acquisti, um professor adjunto de tecnologia da informação e política pública na Carnegie Mellon que dirigiu os estudos.
Se sua equipe pôde tão facilmente “inferir informações sobre dados pessoais sensíveis”, ele diz, os comerciantes poderão um dia usar técnicas mais invasivas para identificar pessoas aleatoriamente na rua, inclusive com sua capacidade de crédito.
Hoje, o software de detecção facial, capaz de perceber os rostos das pessoas, mas não identificar determinados indivíduos, parece inocente.
Alguns sites de chat de vídeo usam software da face.com, uma companhia israelense, para garantir que os participantes mostrem seu rosto, e não outras partes do corpo, diz Gil Hirsch, o principal executivo da face.com.
O software tem também usos no comércio, como experimentar óculos virtualmente pelo eyedirect.com, e aplicações para brincar, como o moustachify.me, um site em que se pode acrescentar um bigodão a uma foto.
Mas os defensores da privacidade temem situações mais invasivas. Agora, por exemplo, os cartazes de publicidade podem detectar um adulto jovem e mostrar-lhe um anúncio de desodorante Axe. Companhias que produzem esse software afirmam que os seus sistemas não armazenam imagens ou dados sobre transeuntes. /* THE NEW YORK TIMES / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA